Campeonato Brasileiro de Futebol 2023 — Análise de Dados 1/2

Análise de desempenho dos 20 times do Brasileirão através de suas estatísticas

Vinicius Andrade
17 min readDec 29, 2023

Com 380 partidas chega ao fim do Campeonato Brasileiro. Eu como jogador de Football Manager, nerd do futebol e de estatísticas, resolvi fazer uma análise um pouco mais aprofundada sobre o desempenho dos times, explorando diversos aspectos que vão além dos resultados finais dos jogos, com o intuito de gerar insights sobre a maneira que os clubes brasileiros se comportam em campo, tentando deixar de o fora o clubismo.

A ideia inicial era separar o projeto em 3 partes distintas: Análise geral dos do Ataque e Defesa dos times, Análise geral dos jogadores, Análise mais detalhada dos principais destaques. No entanto, o trabalho acabou “saindo do controle” devido a complexidade que eu acabei tentando implementar, já que não estava satisfeito com as conclusões — ao meu ver superficiais — obtidas, então acabei separando em somente duas partes com postagens separadas: Análise geral dos ataques e das defesas.

Os dados utilizados foram extraídos do FBREF por meio do pacote worldfootballR. Diferente da coleta das informações que foi realizada pelo R, a manipulação e a apresentação visual dos dados foram feitas através do Python. Tanto os datasets quanto as linhas de código estão disponíveis neste repositório do GitHub.

ANÁLISE GERAL DOS TIMES

1. ATAQUE

O melhor jeito de se começar é observando as métricas mais óbvias: Gols e Assistências. Aqui vamos não só observar os números de gols e assistências absolutos mas também os esperados xG e xAG, logo depois vamos dar uma olhada sobre como essas equipes baseiam seus ataques e consequentemente constroem suas jogadas.

1.1 — Gols esperados (xG) e Assistências esperadas (xAG)

No geral, vemos que as equipes que mais balançam as redes adversárias são aquelas com um número de Gols Esperado (xG) elevado, com os times da metade de cima da tabela liderando a métrica. No entanto, temos alguns destaques positivos e negativos, sendo eles:

G < xG e Ast < xAG

Os times que estão converteram menos gols e assistências que o esperado.

Cruzeiro — Ronaldo precisa correr atrás de peças para seu clube, já que, embora produza mais gols esperados (xG) que a média do campeonato, não se tornou o pior ataque da competição a toa. O time mineiro tem -7,9 (xAG — Ast) e impressionantes -15,6 (xG — Gols) sendo o único a ficar abaixo de -10 na métrica.

Red Bull Bragantino — Possui o maior xG do Campeonato (57,8) e o terceiro xAG (39,1), sendo um dos ataques que mais cria situações de perigo, porém com -9,1 e -9,8 é uma das equipes com maior diferencial entre assistências/gols marcados e assistências/gols esperados. O que torna o time de Bragança o segundo mais ineficiente — ou azarado — em converter chutes em gols, atrás somente do Cruzeiro.

São Paulo e Fortaleza — Apesar de não serem tão prolíficos quanto o Bragantino, ainda sim se encontram acima da média em xG e xAG produzindo uma boa quantidade de chance de gol, entretanto, com -5,7 e -7,4 (xG — Gols), respectivamente, dividem a incapacidade de transformar suas chances criadas em vantagens no placar, e, juntos de RBB e CRU fecham o top 4 dos ataques mais ineficientes do Campeonato Brasileiro.

G > xG e Ast > xAG

Os times que estão converteram mais gols e assistências que o esperado.

Grêmio — Com 11 gols e 8,7 assistências a mais que o esperado, o Grêmio é o time que mais supera suas expectativas de gols marcados, sendo assim a equipe mais eficiente em transformar chances criadas em gols. Seria o efeito Suarez?

Corinthians — Com 4,9 de saldo acredito ser uma surpresa ver um time que sofre com tantas piadas direcionadas ao seu principal atacante, estar figurando entre as 5 equipes mais eficientes em converter suas chances de gol .

Coritiba — Um pequeno motivo de felicidade e esperança — em uma boa campanha em 2024 — para a torcida do Coxa, embora a equipe seja uma das piores na criação de situações de gol, se demonstrou razoavelmente competente em converte-las, com um pouco mais de 0,9 gols a mais que o esperado.

1.2 CHUTES

Analisando a média de chutes de cada equipe, podemos ter uma visão mais ampla sobre o quão ativas e precisas elas são na finalização de suas jogadas de ataque:

As equipes artilheiras da liga, Palmeiras e Grêmio, destacam-se em mais uma métrica, mas dessa vez de maneiras diferentes. Enquanto o time paulista criou seus gols através de um alto número de chutes (16 por partida) próximos ao gol adversário (18,7m de distância média) com uma relativa baixa precisão (33%), o tricolor gaúcho chuta pouco ao gol, 13 por partida, porém, é junto do Fluminense, a equipe mais precisa do campeonato com 37% de arremates no alvo.

Em relação a média de chutes por partida, o Red Bull Bragantino conquista o título com seus 16,6 chutes a cada 90 minutos. No entanto, sua baixa taxa de precisão de 32,8%, sugere a necessidade de melhora nas finalizações para 2024, o que vai ao encontro do seu saldo negativo entre gols e gols esperados. O Coritiba, penúltimo na tabela foi o elenco com a menor taxa de chutes por 90 minutos (11) e com a maior distância média (20,3m). No entanto, se encontra acima da média em relação a precisão (33,3%).

TLDR: Por mais que seja muito frustrante ver seu time do coração não finalizando ao gol, é melhor esperar uma boa oportunidade dentro da área do que realizar chutes de média e longa distância, visto que, equipes que escolheram realizar arremates sempre que possível, tiveram um saldo negativo em gols esperados (xG), além de uma porcentagem baixa em chutes no alvo;

Embora os gols sejam a meta final de uma estratégia de ataque, diversos fatores na fase de construção ofensiva influenciam na busca desse objetivo. Nesta seção da análise, vamos examinar métricas como posse de bola, frequência de cruzamentos, tipos de passes, dribles certos, entre outros.

2 . POSSE DE BOLA

Segundo Renato Gaúcho, técnico vice-campeão de 2023, dominar a posse de bola não é crucial para ser uma força dentro das 4 linhas. No entanto, é um dos parâmetros mais simples para se entender as táticas ofensivas de uma equipe específica.

Sem nenhuma surpresa o Fluminense de Diniz se destacou como a equipe que mais controlou a posse de bola, com uma média de 61,6% por jogo. Entretanto, com apenas 6 passes progressivos a cada 100 toques na bola, é uma das equipes menos incisivas ao passar a bola, enquanto Flamengo (57,4%) e Red Bull Bragantino (56,5%) além de também terem o hábito de dominarem a posse, possuem a característica de estar constantemente progredindo em direção ao gol adversário, com respectivamente 7,63 e 7,49 passes progressivos por 100 toques na bola.

Embora o domínio da posse seja uma escolha estratégica, não é uma surpresa ver que as 4 equipes rebaixadas estejam entre as 5 com menos controle da bola durante seus jogos: Com 43,8% o Cuiabá é o único time não rebaixado no “Z5 da posse de bola”, porém, juntamente do América MG (43,1%) são as únicas dentre essas 5 equipes que apresentam uma característica mais objetiva em seu ataque, estando acima da média do Brasileirão em passes progressivos — 6,77 e 7,05 respectivamente -.

Vale a pena ressaltar mais dois times em específico, Grêmio e Cruzeiro: Apesar do clube mineiro ter lutado contra o rebaixamento com o pior ataque do campeonato, foi uma equipe bastante objetiva em suas ações ofensivas, sendo a terceira em passes progressivos (7,39 por 100 toques), mas sem abdicar de ter a bola em seus pés (51,5%). Enquanto a equipe gaúcha não se importava em deixar a equipe adversária ficar com a bola, já que em média permanecia com ela somente em 46,7% da partida, ao mesmo tempo que constantemente tentava progredir no campo com 7,15 por 100 toques.

A visualização acima representa os terços do campo no qual os times concentram seus toques na bola, ou seja, onde passam a maior parte de seu tempo enquanto estão com a posse. Diferente das métricas anteriores, aqui é possível observar uma maior heterogeneidade em relação a tabela final do campeonato e os estilos de jogo empregados, visto que, entre as 5 equipes que mais concentram seus esforços ofensivos no terço final do campo, duas delas (Cruzeiro e América-MG) terminaram entre as com menos pontos na Série A.

TLDR: Foi mal, Renato, mas pelo menos aqui no Brasil a posse de bola tem sim relação com resultados positivos, pelo menos na parte de baixo da tabela, já que as equipes capazes de manter o controle da bola em 2023 raramente se viram envolvidas em uma batalha contra o rebaixamento.

3 . TRABALHANDO NA ÁREA ADVERSÁRIA

Vamos prosseguir retrocedendo a partir dos gols. Como as equipes conseguiram se aproximar do gol adversário? Ao mapear as ações (coletivas ou individuais) para entrar na área e os toques na bola dentro da área adversária por jogo é possível traçar uma ligação mais profunda entre as estratégias e os números de gols, revelando quais times adotaram uma abordagem mais ofensiva e tiveram êxito em se aproximar de seu objetivo final de ataque.

A tendência geralmente é que quanto maior a taxa de posse de bola de uma equipe, mais toques na área ela tem em média, sendo Flamengo, Bragantino e Palmeiras exemplos claros desta afirmação. No entanto, uma classificação baixa nessa estatística não necessariamente significa que uma equipe é ruim no ataque, ou que uma equipe com pouca posse de bola não consiga ser ativo no terço final do campo:

O Atlético Mineiro é o primeiro bom exemplo disso, o Galo com uma taxa de posse de bola alta nos levaria a acreditar que trabalharam a bola com facilidade próximo ao gol, porém com 16,78 toques na área por 90 minutos foi a quarta equipe menos ativa na área adversária. Entretanto, se mostraram bastante eficientes com seus poucos toques, já que fecharam o campeonato com 51 gols — quarto melhor ataque -.

Do outro lado vemos Grêmio e América MG, equipes que definitivamente não se importaram em ter a bola no pé, contudo, com 20,61 e 20,13 toques na bola por jogo na área adversária demonstraram uma grande facilidade em trabalhar suas jogadas na área do oponente.

Vasco e Santos apresentam abordagens totalmente opostas no ataque:

O Vasco se destaca como a equipe que mais cruza bolas na área, com o Palmeiras e o América-MG seguindo de perto nesse aspecto. A tática vascaína evidencia uma ênfase na busca por oportunidades a partir dos cruzamentos, uma característica que define a sua presença no último terço do campo. Por outro lado, Santos destaca-se pela escolha de jogadas individuais, preferindo a criatividade e a destreza dos seus jogadores para penetrar na área adversária.

Flamengo e Grêmio concentram suas ações no ultimo terço do campo por passes, evitando, em grande parte, a opção de levantar a bola na área. Essa preferência destaca a qualidade técnica e a construção elaborada de jogadas dessas equipes.

Coritiba e Corinthians enfrentam desafios significativos para penetrar na área adversária. Seja por meio de passes ou cruzamentos, ambas as equipes têm demonstrado dificuldades em criar oportunidades claras de gol.

4 . JOGO AÉREO

Seguindo a partir da análise das ações dentro da área, vamos agora observar a maneira como cada equipe utiliza o jogo aéreo, começando pelos gols de cabeça marcados:

Diferente do observado anteriormente, aqui é percebido que talvez não exista relação entre escolha estratégica e eficiência ofensiva, visto que, existe uma diferença considerável na proporção de gols totais e gols de cabeça de times em diferentes regiões na tabela.

Certamente, nem todos os cruzamentos são realizados com o intuito de serem cabeceados, existe uma variedade de cruzamentos que podem demandar uma variedade de ações além de um arremate de cabeça. Entretanto, vamos focar neste fundamento em específico nessa parte.

O América MG foi a segunda equipe com a maior taxa de precisão em cruzamentos (15,2%) e uma das que mais cruzaram a bola para a área, mas marcaram apenas 7 gols de cabeça nesta temporada, como vimos em um gráfico anterior, demonstrando ter um elenco ofensivo carente de bons finalizadores de cabeça. Já o Vasco é o líder isolado em precisão, sendo o único a passar da linha dos 16%, mesmo concentrando seu ataque em cruzamentos na área, demonstrando que o time da colina opta por essa abordagem justamente por ser bastante competente.

Shot Creating Actions (SCA) — Ações que resultaram em um chute ao gol

As bolas paradas são um aspecto vital do ataque em qualquer nível do jogo. Desde a utilização de jogadas ensaiadas até o aproveitamento da fisicalidade a seu favor, muitas equipes dependem bastante de marcar gols a partir de lances de bola parada, sendo o Goiás a principal, tendo-se em vista que é uma equipe que não consegue realizar bons cruzamentos com a bola rolando, porém é a que mais depende de finalizações de cabeça — 37,14% de seus gols totais — para balançar as redes.

O gráfico acima nos apresenta outro fator bastante relevante: Toda as equipes — fora Flamengo e Vasco — que estão acima da média em gols de cabeça por jogo demonstraram serem fortes em jogadas de bola parada durante a temporada. Assim, há fortes indícios de que o senso comum de que o famoso “chuveirinho” no futebol brasileiro seja apenas uma jogada de ataque desesperada aparenta ser verdadeiro.

Santos é o time que mais cria situações de perigo através de escanteios e faltas, mas apresenta uma clara incapacidade de transformar esses lances em gols.

TLDR: Jogo aéreo é um ponto forte de diversas equipes, porém, a chave em utilizar essa arma não é através de cruzamentos com a bola rolando, mas sim através de jogadas com a bola parada, já que é aqui onde a maior parte dos gols de cabeça surgiram.

5 . CONSTRUÇÃO DE JOGADAS

Já vimos como os times costumam entrar na área e se preferem atacar pelo ar ou pelo chão, nos resta agora verificar como essas equipes chegam no terço final do campo.

Equipes que se destacam em passes em profundidade, mas apresentam uma baixa frequência de passes para o terço final, geralmente preferem jogar rapidamente nas costas da defesa adversária antes que ela tenha a chance de se reorganizar defensivamente. Enquanto times que realizam mais passes para o terço final e menos passes em profundidade normalmente são equipes que gostam de trabalhar a bola antes de avançar. No entanto, existem também equipes que conseguiram mesclar as duas abordagens, como Atlético Mineiro, Cruzeiro, São Paulo e Flamengo.

Analisar os passes longos em relação ao total de passes por jogo ou encontrar a proporção entre os dois, nos dá uma ideia de quais equipes optam por passes longos na esperança de chegar ao seu campo de ataque, em comparação com aquelas que escolhem uma abordagem mais paciente com a posse de bola.

Vemos aqui uma tendência geral que as equipes que realizaram um alto número de passes longos por partida em relação aos seus passes tentados também foram as mais propensas a adotar um estilo mais direto, não se importando em controlar a posse de bola, como Goiás, Botafogo e Cuiabá.

Entre os times que optam pelo controle da bola, Flamengo e Fluminense quase ignoram a tática da bola longa, visto a relação apresentada no gráfico, sendo equipes que buscam progredir a partir de outras maneiras.

No entanto, é evidente — no quadrante superior direito — que cinco times não hesitam em utilizar a bola longa, mesmo prezando pela posse de bola, com destaque para o Palmeiras, que foi o líder isolado em bolas longas tentadas no campeonato, sugerindo ser uma equipe que não hesita em acelerar seu jogo em direção ao gol inimigo assim que recuperava a bola em seu terço defensivo.

TLDR: Além da posse de bola, os elencos que lutaram na parte de cima da tabela tiveram outra característica em comum: A capacidade de realizar passes longos, não só esporadicamente, mas sim os utilizando de maneira rotineira em suas ações ofensivas;

5. DRIBLES

Diferentemente de outras ligas ao redor do mundo, no Brasil não aparenta haver uma relação direta entre o número bem-sucedido de dribles que uma equipe realiza durante uma partida com seu número de pontos na competição, ou seja, não necessariamente quanto mais dribles uma equipe consegue realizar, mais pontos ela conquista e/ou mais gols ela marca em média. Considerando que das quatro equipes rebaixadas, duas — Santos e Coritiba — se destacam no ranking de dribles bem-sucedidos por jogo. Isso, juntamente com os dados de posse de bola, apontam que no campeonato brasileiro o drible é mais uma arma para se ter o controle da bola e progredir no campo, do que na criação de jogadas de perigo.

6. CONCLUSÃO E PRINCIPAIS DESTAQUES

Campeonato Brasileiro se demonstrou bem diverso em relação táticas e escolhas ofensivas. Porém alguns clubes se destacaram tanto de maneira positiva quanto de maneira negativa:

6.1. Principais destaques

Palmeiras — Alviverde paulista é dominante em praticamente todas as métricas ofensivas: É uma equipe forte na bola parada, que ataca tanto pelo alto quanto pelo chão, tem facilidade em avançar o campo com passes longos e/ou jogadas individuais, além de finalizar muito e quase sempre dentro da área adversária, tudo isso sem abdicar do controle da posse de bola. Falar da qualidade desse time é “chover no molhado”, não é à toa que Abel Ferreira é odiado por todos seus rivais.

Grêmio — É possível perceber que o tricolor gaúcho possui um estilo de jogo claro: Deixar a bola com o adversário e contra atacar com velocidade. Apesar dessa estratégia não conferir ao time boas estatísticas no geral, se provou extremamente eficiente, visto o saldo de xG e xAG da equipe. No entanto, times como o Coritiba e América-MG também optaram por essa abordagem e não foram felizes. Seria isso mérito de Renato Gaúcho ou uma dependência de Luis Suarez? Somente uma análise especifica sobre o time do Grêmio e seus jogadores poderá responder essa questão.

Cruzeiro — “Gol é só um detalhe”. Sim, isso mesmo, o Cruzeiro é um dos destaques ofensivos. Embora tenha sido o pior ataque do campeonato, com 32 gols, o Cabuloso apresentou um esquema ofensivo bastante equilibrado, incisivo, com o controle da bola e que chegava com facilidade no terço final do campo. Porém, a incapacidade em finalizar os lances acabou superando seu equilíbrio na criação de jogadas, visto seu saldo de gols esperados extremamente baixo (-15,6). Caso o time de Minas consiga manter sua base e contratar atacantes de mais peso, talvez tenha sucesso em 2024.

Atlético-MG — Apesar do bom desempenho ofensivo apresentado, o Galo definitivamente prefere a magia aos números: É uma das piores equipes na bola parada; prefere finalizar a média e longa distância; além de ser mediana em quase todas as outras métricas analisadas — fora passes em profundidade -, ainda sim foi a quarta em gols marcados no ano (51) e teve a melhor campanha do returno. Muito se falou na dependência do Grêmio no Suarez, mas não deveríamos discutir e analisar também a dependência do Atlético MG em Paulinho e Hulk?

Vasco — Entra como destaque devido a campanha histórica no returno e a sua força nos cruzamentos. Apesar do time da colina depender quase que exclusivamente dessa estratégia, se demonstrou competente e eficiente na tática, sendo um dos líderes em quase todas as métricas relacionadas a cruzamentos, e, junto de Palmeiras e Botafogo foram as únicas equipes que conseguiram transformar o famoso “chuveirinho” em vantagens no placar de maneira consistente. No entanto, possui um elenco limitado que apresenta dificuldades em variar seu esquema ofensivo, tendo-se em vista seus péssimos números em outro parâmetros. Alexandre Mattos vai precisar por em bom uso todo o dinheiro da 777, caso contrário, o torcedor cruzmaltino voltará a sofrer ano que vem.

Red Bull Bragantino — Possui excelentes números ofensivos, e apesar de liderar em algumas estatísticas, ataca de maneira muita parecida com o Cruzeiro, sendo muito incisivo e apresentando facilidade em entrar na área. Entretanto, também sofre dos mesmos problemas, mas diferente do clube de Minas, considero o Bragantino como um destaque negativo, devido unicamente pela surpresa e estranheza em ver a equipe líder em gols esperados (xG) e vice-líder em toques na área adversária, com o segundo pior saldo entre gols marcados e xG (-9,8). Teria sido essa incapacidade de converter boas chances de gol o motivo por não ter sido um dos principais candidatos ao título no final do Brasileirão? Assim como o Cruzeiro, talvez a contratação de melhores finalizadores ajude o time em 2024.

América-MG — Todo aquele frisson sobre o América-MG ter sido “o melhor lanterna” da história dos pontos corridos é até certo ponto verdadeiro, porém, não foi um time ofensivamente robusto. Apesar de buscar sempre avançar em direção ao gol adversário, seja por passes ou ações individuais, suas ações no terço final se assemelharam em muito as do Vasco, focando quase que exclusivamente em cruzamentos. No entanto, diferente do clube cruzmaltino, o time mineiro se demonstrou bastante ineficiente em transformar essas jogadas em gol.

Santos — Com o terceiro pior ataque do Campeonato Brasileiro o Santos é praticamente o inverso de seu rival Palmeiras. O Peixe está entre as piores equipes em quase todas as métricas ofensivas, ainda que tenha sido um time perigoso em bolas paradas, foi um ataque extremamente dependente de jogadas individuais para progredir no campo e para construir lances de perigo, talvez resultado da boa qualidade técnica de alguns jogadores. Contudo, a falta de coletividade no esquema tático apontada pelos dados analisados revela que o rebaixamento era, de certa forma, inevitável.

TLDR: Palmeiras é uma máquina em quase todas as estatísticas; Cruzeiro, apesar de ter sido o pior ataque em gols marcados, foi competente na construção de jogadas. O Galo prefere a magia aos números, teve um ataque bastante desequilibrado estatisticamente falando, mas ainda assim conseguiu ser eficiente, seria o fator Paulinho e Hulk? Um dos motivos do Vasco ter permanecido na Série A foi, provavelmente, ter sido fora da curva em relação ao jogo aéreo fruto de cruzamentos com a bola rolando. Red Bull Bragantino foi o Cruzeiro da parte de cima da tabela, muito bom na construção de jogadas, mas terrível nas finalizações. América-MG não foi rebaixado à toa. Seu ataque, apesar de ser bastante agressivo em relação à progressão em campo, sempre partia para o “chuveirinho” no terço final, mesmo sendo péssimo no jogo aéreo. Santos foi o inverso do Palmeiras, já que foi um dos piores times em quase todas as métricas analisadas, dependendo exclusivamente de jogadas individuais.

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Engenheiro Florestal formado na UFRRJ | Cientista de dados por paixão. Interessado por machine learning e IA. Viciado em sports analytics.

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